domingo, 23 de dezembro de 2012

"qualquer maneira de amor vale a pena"



é como dizem.
ótimo início de novo mundo, que venham os habitantes de outros mundos, animais desconhecidos e os sentimentos adormecidos.

conjuguem os verbos no infinito.
:)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Achados e Perdidos - o resultado #4


Bem, para e para acabar, a última contribuição para as obras coletivas.

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#4 O que você deixaria se o mundo realmente acabasse?
por Leandro Araújo


Oi Sophia, 
vi seu convite para participar de uma obra coletiva sobre o fim do mundo... então aí vai:

Compartilho contigo minha frustração de não conseguir me expressar como um poeta, acho que nunca fui bom com as palavras.
Para minha sorte existem verdadeiros poetas... e para minha sorte sou um bom leitor e encontro neles escape para os sentimentos. 

Como escreveu Bachelard em seu livro "A Poética do Espaço":
"Quanto a nós, acostumados a leitura feliz, só lemos, só relemos aquilo que nos agrada, com um pequeno orgulho de leitura mesclado de muito entusiasmo. Enquanto o orgulho evolui habitualmente para um sentimento maciço que pesa sobre todo o psiquismo, a pontinha de orgulho nascida da adesão a uma imagem feliz permanece discreta, secreta. Está em nós, simples leitores, para nós, e só para nós. É um orgulho crivado. Ninguém sabe que na leitura revivemos nossas tentações de ser poeta. Todo leitor um pouco apaixonado pela leitura alimenta e recalca, pela leitura, um desejo de ser escritor. Quando a página lida é demasiadamente bela, a modéstia recalca esse desejo. Mas ele renasce. Seja como for, todo leitor que relê uma obra que ama sabe que as páginas amadas lhe dizem respeito. "

As páginas de Pessoa, Drummond, de Manoel de Barros e de muitos outros me dizem respeito. Dada sua proposta, me lembrei de uma poesia de Carlos Drummond de Andrade chamada "Os últimos dias". Eu a reli agora e compartilho com você nesta noite. E continuo, até o fim do mundo, com minha tentação de ser poeta um dia.

Carlos Drummond de Andrade – Os últimos dias

Que a terra há de comer,
Mas não coma já.
Ainda se mova,
para o ofício e a posse.

E veja alguns sítios
antigos, outros inéditos.

Sinta frio, calor, cansaço:
para um momento; continue.

Descubra em seu movimento
forças não sabidas, contatos.

O prazer de estender-se; o de
enrolar-se, ficar inerte.

Prazer de balanço, prazer de vôo.

Prazer de ouvir música;
sobre o papel deixar que a mão deslize.

Irredutível prazer dos olhos;
certas cores: como se desfazem, como aderem;
certos objetos, diferentes a uma luz nova.

Que ainda sinta cheiro de fruta,
de terra na chuva, que pegue,
que imagine e grave, que lembre.

O tempo de conhecer mais algumas pessoas,
de aprender como vivem, de ajudá-las.

De ver passar este conto: o vento
balançando a folha; a sombra
da árvore, parada um instate
alongando-se com o sol, e desfazendo-se
numa sombra maior, de estrada sem trânsito.

E de olhar esta folha, se cai.
Na queda retê-la. Tão seca, tão morna.

Tem na certa um cheiro, particular entre mil.
Um desenho, que se produzirá ao infinito,
e cada folha é uma diferente.

E cada instante é diferente, e cada
homem é diferente, e somos todos iguais.
No mesmo ventre o escuro inicial, na mesma terra
o silêncio global, mas não seja logo.

Antes dele outros silêncios penetrem,
outras solidões derrubem ou acalentem
meu peito; ficar parado em frente desta estátua: é um
torso de mil anos, recebe minha visita, prolonga
para trás meu sopro, igual a mim
na calma, não importa o mármore, completa-me.

O tempo de saber que alguns erros caíram, e a raiz
da vida ficou mais forte, e os naufrágios
não cortaram essa ligação subterrânea entre homens e coisas;
que os objetos continuam, e a trepidação incessante
não desfigurou o rosto dos homens;
que somos todos irmãos, insisto.

Em minha falta de recursos para dominar o fim,
entretanto me sinta grande, tamanho de criança, tamanho de torre,
tamanho da hora, que se vai acumulando século após século e causa vertigem,
tamanho de qualquer João, pois somos todos irmãos.

E a tristeza de deixar os irmãos me faça desejar
partida menos imediata. Ah, podeis rir também,
não da dissolução, mas do fato de alguém resistir-lhe,
de outros virem depois, de todos sermos irmãos,
no ódio, no amor, na incompreensão e no sublime
cotidiano, tudo, mas tudo é nosso irmão.

O tempo de despedir-me e contar
que não espero outra luz além da que nos envolveu
dia após dia, noite em seguida a noite, fraco pavio,
pequena amplo fulgurante, facho lanterna, faísca,
estrelas reunidas, fogo na mata, sol no mar,
mas que essa luz basta, a vida é bastante, que o tempo
é boa medida, irmãos, vivamos o tempo.

A doença não me intimide, que ela não possa
chegar até aquele ponto do homem onde tudo se explica.
Uma parte de mim sofre, outra pede amor,
outra viaja, outra discute, uma última trabalha,
sou todas as comunicações, como posso ser triste?

A tristeza não me liquide, mas venha também
na noite de chuva, na estrada lamacenta, no bar fechando-se,
que lute lealmente com sua presa,
e reconheça o dia entrando em explosões de confiança, esquecimento, amor,
ao fim da batalha perdida.

Este tempo, e não outro, sature a sala, banhe os livros,
nos bolsos, nos pratos se insinue: com sórdido ou potente clarão.
E todo o mel dos domingos se tire;
o diamante dos sábados, a rosa
de terça, a luz de quinta, a mágica
de horas matinais, que nós mesmos elegemos
para nossa pessoal despesa, essa parte secreta
de cada um de nós, no tempo.

E que a hora esperada não seja vil, manchada de medo,
submissão ou cálculo. Bem sei, um elemento de dor
rói sua base. Será rígida, sinistra, deserta,
mas não a quero negando as outras horas nem as palavras
ditas antes com voz firme, os pensamentos
maduramente pensados, os atos
que atrás de si deixaram situações.
Que o riso sem boca não a aterrorize
e a sombra da cama calcária não a encha de súplicas,
dedos torcidos, lívido
suor de remorso.

E a matéria se veja acabar: adeus composição
que um dia se chamou Carlos Drummond de Andrade.
Adeus, minha presença, meu olhar e minas veias grossas,
meus sulcos no travesseiro, minha sombra no muro,
sinal meu no rosto, olhos míopes, objetos de uso pessoal, idéia de justiça, revolta e sono, adeus,
adeus, vida aos outros legada.

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Acho que deixaria esse poema escrito em um papel. Será que a essência dele caberia em uma garrafinha de vidro? =) um desafio. Tomara que sim, e que sociedades pós-fim-do-mundo possam um dia encontrá-la e entender coisas tão profundas que estes poetas traduziram para nós em palavras.





para ver os demais resultados:



quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Achados e Perdidos - o resultado #2



Continuando com os resultados da obra colaborativa:

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#2 O que você deixaria se o mundo realmente acabasse?
por Walderes Lima de Brito


Sophia, sua doida,
como é que vc tem uma ideia linda dessas?

Soube da sua exposição pelo Wolney Fernandes, seu colega de ofício, e adoraria receber nem que fosse um vidrinho aqui no fim do mundo que agora habito. Sou pernambucano, vivo há 20 anos em Goiás e, desde setembro, estou em Winnipeg, Canadá, para um ano de estudos... Segundo maior país em território, com uma população que caberia em duas São Paulo, um frio do cacete... definitivamente já estou no fim do mundo. Meus desejos hoje são:
1) As mãos quentes do meu amor massageando os meus pés;
2) Uma calçada de flores amarelas de flor de sibipiruna;
3) Dois versos de Manoel de Barros: "Meu fardo é o de não saber quase tudo. /Sobre o nada eu tenho profundidades.";
4) Um prato de feijão de corda e queijo de qualho preparados pela minha mãe.
Mega parabéns pela iniciativa.
Estou doido pra que o dia 8 de dezembro chegue logo pra gente ver sua "criança".





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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Achados e Perdidos - o resultado #1


Achados e Perdidos, pedi o auxílio de algumas pessoas para fazermos obras colaborativas para e Exposição O FIM DO MUNDO, do Coletivo FAKE FAKE para o FAKE FAKE ilustraciones 4. Vieram até mim emails, recados, comentários e todos, todos, cheios de CATAPLOFISH* e que me fizeram sentir das mais diversas formas. Foi uma troca generosa e por mais que eu agradeça, só o posso - verdadeiramente - entre: formas, cores, traços e arte.

*palavra que inventei para sentimento que não tem nome

Vou mostrar os resultados dos quatro vidrinhos escolhidos e deles, o contexto em que me foram passados. Os conceitos que cada um gostaria de deixar e guardar:

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#1 O que você deixaria se o mundo realmente acabasse?
por Wolney Fernandes

Para o fim do mundo eu gostaria de deixar alguns instantes que eu andei colecionando nos últimos meses. Escolha aquele que mais lhe tocar e crie achados e perdidos para o depois que o mundo acabar! 

- A mulher idosa, na fila, vira para mim e ensina: "De fila para pegar comida a gente não pode reclamar. O que eu não quero é ficar na fila esperando a morte chegar".
-
 Enquanto a condução não vem e o sinal verde não acende, uma moça chora sozinha recolhida no canto do assento do ponto de ônibus.

- O porteiro cochila tranquilamente sem perceber que o carteiro hesita entre acordá-lo ou sair de fininho sem fazer barulho.

- A moça rasga o papel exatamente na dobra que ela vincou e segue até a fila do caixa deixando o pedaço branco sobre a mesa. Ao ocupar o lugar dela, começo a desenhar as flores que enfeitam o tecido da blusa que ela veste.

- Em um pedaço de papelão jogado na rua 04:
"O amor é bonito como uma flor, basta um pouco de calor."

- O casal de namorados chora na hora da despedida. Ele embarca. Ela dá a volta para vê-lo pela janela do ônibus. Palavras de amor são balbuciadas no silêncio transparente que o vidro da janela constrói. Ela beija a aliança prateada que enfeita sua mão direita. O ônibus parte... Ela permanece imóvel na plataforma da rodoviária.

- Na pamonharia, a dona, de cara amarrada, me atende com um muxoxo inaudível querendo me fuzilar com os olhos quando peço uma pamonha. Sendo o único cliente do estabelecimento, trato de comer rapidamente sem olhar em sua direção. Ao me dirigir até o balcão para efetuar o pagamento, percebo que ela tenta esconder, sem sucesso, um livro da coleção Sabrina: "Prisioneira da Paixão". 





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